domingo, 15 de junho de 2008

Capítulo 25

Capitulo 25

Como nada acontecia depois de alguns segundos no elevador, os dois já acreditavam num fracasso. Como o elevador não se movia, a porta continuava aberta expondo desnecessariamente a presença deles. Fazendo um comentário sobre a situação quando interpretaram o andar, Lin Ping pediu casualmente o décimo andar, a porta fechou e em pouco mais de dez segundos já estavam no corredor forrado de vermelho com o tapete negro cobrindo o chão.
Eles não sabiam o que podiam encontrar pela frente e também qual caminho deveriam seguir, não havia sinal de outro elevador ou escada naquele corredor.
- O décimo primeiro andar, foi mal interpretado! – Repetiu Lin Ping com desanimo.
- A mensagem de Morga não foi uma coisa comum, tem de ser...
- Que cara é essa? – Indagou o professor desconfiado diante do sorriso malicioso do rapaz que havia silenciado repentinamente.
- Já sei...! – Ele exclamou dando um soco no ar. – Na hora do espirro, ela indicou o caminho, vamos ter de entrar na sala de doutora Vindara.
- Pura loucura, mas não tenho uma idéia melhor! - Disse Lin Ping dando de ombros. – Não gosto de improvisos.
Eles avançaram cautelosos, tremendo muito, Urando tocou no sensor de abertura e a porta abriu lentamente. O silêncio na sala da doutora era semelhante ao de um mausoléu num cemitério abandonado. Não havia nenhum sinal de porta na sala de entrada, mas devia ser no lado esquerdo, o rapaz estava revendo mentalmente a indicação feita pela namorada.
Cuidadosamente ele tateou a parede e sorriu chamando o professor. Mostrou que havia descoberto algo que jamais imaginara existir. Lin Ping logo entendeu, estava diante de uma parede virtual, quase tudo em volta era parte de uma imagem holográfica. Eles atravessaram a parede, se depararam com um outro corredor largo que terminava dez metros adiante numa porta metálica, devia ser um segundo elevador.
Durante alguns minutos tentaram encontrar uma maneira de abrir aquela porta, parecia que não havia nenhum botão de chamada ou tranca aparente. Muito observador Lin Ping viu no chão, próximo da porta, bem ao centro um local onde o tapete estava mais desgastado. Se abaixou para examinar, passou a mão algumas vezes e depois ficou novamente de pé. Sorrindo ele esfregou as mãos e pisou no local, a porta se abriu em duas bandas e surgiu um outro corredor.
Ouviram vozes se aproximando, não sabiam onde poderiam se ocultar e resolveram seguir em frente. Não haviam dado nem cinco passos quando três mulheres surgiram no caminho saindo da parede. Com muita agilidade, Lin Ping saltou sobre elas e com um golpe certeiro e inesperado na nunca derrubou a primeira as outras duas, começaram a lutar com o velho de maneira surpreendente, Urando ficou paralisado por alguns segundos, ao recuperar o fôlego partiu para a luta.
Quando finalmente derrubaram as outras duas, eles se entreolharam preocupados, mais do que nunca teriam pouco tempo para agir. O golpe as manteria desacordadas por poucos minutos e outras poderiam encontrá-las. Avançaram para o ponto onde viram as mulheres saindo e se depararam com uma sala larga onde havia um elevador muito grande de portas abertas.
- Décimo primeiro. – Disse Urando.
A porta se fechou e imediatamente abriu novamente. Nem parecia terem saído do lugar, mas estavam no décimo primeiro andar, era um corredor todo de vidro com uma passarela de aço que corria para os lados, em volta de um grande tubo feito de material estranho e luminoso. Por uma fração de segundo sentiram um solavanco no estomago como quem sobe ou cai repentinamente no ar. Uma porta lateral parecia ser a única passagem possível para o interior daquela armação desconhecida.
- Isso não é coisa desse mundo! – Exclamou Urando olhando em volta com ar assustado.
- Vamos entrar logo por essa porta! – Lin Ping puxou o rapaz.
A porta abriu automaticamente quando eles se aproximaram, parecia ser um terceiro elevador. Procuraram em vão por um tipo de comando mesmo não sabendo para onde iriam se o descobrissem. Já desanimados, sentaram no chão e ficaram em silêncio. Urando suspirou.
- Morga...!
A porta fechou e eles sentiram um deslocamento lateral muito sutil. A porta abriu, estavam diante de Morga sentada diante do painel de uma máquina estranha. Aquela caixa não era um elevador, entenderam logo que se tratava de um tipo de transportador diferente. A moça correu e se abraçou a Urando. Lin Ping se emocionou.

Capítulo 24

Capítulo 24

Finalmente o tempo de espera estava findo. Quando Urando saiu depois do almoço para o trabalho, sentia seu corpo pesado e sua cabeça doía. Por alguns minutos lhe ocorreu a idéia de propor adiarem aquela ação, mas sabia que de nada adiantaria temer os imprevistos deixando de fazer o que se tornava mais do que necessário, talvez nem valesse a pena, pois poderia ser tarde demais qualquer coisa que tentassem.
Também não deixava de se preocupar, o plano todo poderia falhar se seu dardo não funcionasse. Havia a possibilidade de não ser tão útil como imaginara. Sabia que essa sua invenção estava sem qualquer teste, mas agora não teria como voltar no tempo, o importante mesmo era tentar esquecer esse detalhe, mesmo que para isso estivesse colocando o velho professor em risco.
Pouco antes do horário combinado, Lin Ping estava no local da plataforma de embarque como haviam planejado. Ele sorria maliciosamente como quem sente que o momento certo para sua vingança estava inevitavelmente nas mãos dele. Não poderia deixar de entender de uma vez por todas o que realmente acontecera com Raina, talvez o plano todo fosse um fracasso, mas com toda certeza nunca mais ficaria se sentindo inútil e impotente.
Quando o horário do turno foi concluído, todos recolheram as ferramentas e seguiram para o canal de manutenção. Urando fez questão de ser o último a seguir na fila de volta para a estação. Suas pernas estavam tremendo e sua cabeça parecia que explodiria. Seus colegas subiram pela escada e desapareceram como sempre sem nem notarem a ausência do companheiro.
Pegou seu comunicador e fez a ligação para o velho professor que tentava se manter aparentemente calmo para não despertar suspeitas. O trem parou e muitas pessoas embarcaram e desembarcaram. Depois de dois minutos o trem partiu e de maneira muito ágil, Lin Ping pulou para os trilhos correndo na direção de Urando carregando as duas mochilas com os equipamentos necessários para aquela aventura.
Teriam de se afastar rapidamente, pois logo a turma do outro turno estaria chegando. Os dois se abraçaram e rapidamente retomaram o caminho na direção pretendida. Teriam de andar mais de duas horas, mas não sentiam nem seus pés tocarem no chão, corriam receosos de serem vistos. Passaram pela área automatizada ainda em ritmo acelerado e só respiraram descansados quando alcançaram a boca do túnel desativado.
- Trouxe óculos de visão noturna! – disse Lin Ping pegando no bolso os equipamentos.
- Será mais fácil já que não tem iluminação.
- Só me lembrei desse pequeno detalhe antes de sair. - Lin Ping ofegante puxou o rapaz pelo braço. – Vamos adiantar nossos passos.
Eles colocaram os óculos de visão noturna e começaram a seguir para o interior do túnel desativado. O cheiro de mofo e umidade fazia Urando espirrar o tempo inteiro. – Os olhares se mantinham atentos nos movimentos dos ratos que pareciam se assanhar com a presença de seres humanos naquele local abandonado já há muito. Urando ligou o LSO e esperou algum tempo até definir o sinal receptor, a luz começaria a piscar indicando que estariam abaixo do ponto onde Ping deixara o dardo.
Depois de uma caminhada de mais de meia hora, sabiam que deveriam ter atravessado a praça e o sinal ainda não era detectado. Urando se mostrou preocupado, algo estava errado e ele não sabia o que dizer.
- Já passamos pelo local onde deveríamos subir.
- Passamos por vinte e cinco respiradouros. – Disse Lin Ping.
- Não contei... mantive os olhos grudados no LSO. – Se justificou o rapaz. – Vamos retornar um pouco.
- O equipamento está mesmo ligado? – Indagou o professor com desconfiança.
- Quando ele liga, fica com o... – Urando deu um muxoxo. – Sou um idiota!
- O que aconteceu?
- Não desliguei o automático, ficou captando apenas sinais na memória. – Ele suspirou com desanimo. – Acho que agora vai funcionar.
- Não se mova. – disse Lin Ping nervoso. – Tem mais de uma centena de ratos enormes nos cercando.
Assustado, Urando pegou a pistola e ficou olhando em volta. Realmente os ratos se aproximavam lentamente, eram maiores do que aqueles que haviam atacado um de seus colegas. Sem perder muito tempo, Ping começou a atirar com precisão, os ratos eram bichos velozes e traiçoeiros, Urando também atirava para todos os lados. Durante um bom tempo, o túnel se iluminou com aqueles tiros, mas logo os dois respiraram profundamente aliviados, os ratos fugiam.
Ambos não se enganavam, sabiam que aquela trégua podia não durar muito, e com o caminho livre retomaram a busca do respiradouro. Dessa vez, a luz do LSO piscou, estavam captando os sinais de rádio emitidos pelo dardo. Havia uma escada velha e suja que se perdia num túnel apertado sempre para cima. Dessa vez o desespero de Urando se tornou maior, a sua fobia por lugares assim teria de ser vencida.
Depois de vestirem os coletes que haviam roubado no aeroporto, começaram a subir a escada sentindo os pés escorregarem o tempo inteiro nos degraus enferrujados. Assim que Urando alcançou a boca do pequeno túnel do respiradouro, sentiu seus braços fraquejarem e a saliva na sua boca amargar. Respirou profundamente, precisava vencer aquele medo que não sabia como enfrentar. Tentou mais uma vez prosseguir, seus pés estavam grudados no degrau da escada. Suas mãos suavam e seus olhos ardiam muito lhe causando uma vertigem.
Percebendo o pânico do rapaz, Lin Ping se aproximou, o segurou pela cintura quase no momento em que ele escorregou. Os dois ficaram algum tempo imóveis até que Urando recuperou novamente o equilíbrio da mente, sua cabeça fervia e uma dor aguda parecia lhe atravessar os ouvidos. O fracasso lhe envolvia com muita aderência, não seria possível continuar, seu corpo se negava entrar num túnel tão apertado.
- Você precisa seguir em frente! – Disse Lin Ping ofegante.
A imagem de Morga lhe veio repentinamente, ele suspirou olhando para o velho professor e sacudiu a cabeça mostrando que estava novamente dono de seus movimentos. Fechou os olhos e continuou galgando lentamente os degraus até que repentinamente sua cabeça bateu no teto. Abriu os olhos e viu diante de si uma placa amarela já enferrujada com os algarismos 180 em alto relevo.
- Chegamos! – Exclamou aliviado. – Agora só falta destravar essa porcaria.
- Vai conseguir! – disse Lin Ping logo abaixo dos pés do rapaz.
Com cuidado para não cair, Urando enfrentou o medo, suas mãos tremiam, as soltou da escada e recostou na parede. Começou a tatear a trava. Era muito antiga, com três pontos de contato. Precisava identificar os pólos para provocar um curto circuito, teria de acertar da primeira vez ou a trava ficaria danificada para sempre e jamais poderia ser aberta novamente.
Ao lembrar das conseqüências fatais de um erro, ele se encolheu e quase caiu da escada sobre Lin Ping. Não se recordava de ter fraquejado uma só vez na vida, respirou fundo e voltou a se controlar e voltou a tocar na tampa que parecia queimar suas mãos. Já sabia onde deveria conectar para provocar o curto circuito, mas ainda vacilava, era muito importante evitar um engano.
- Não podemos perder muito tempo. – Disse Lin Ping.
- Vai ser agora! – Exclamou o rapaz suspirando.
Sem pensar em mais nada, ele fez a ligação utilizando-se das facas magnéticas da própria tampa e ao escutar o barulho do engate de trava cedendo, sorriu aliviado. Sentia que seu coração palpitava de maneira incomum e seu corpo inteiro parecia encharcado de suor. O colete deveria resolver esse problema ou seria detectado imediatamente pelas câmaras de vigilância.
Abriu a tampa esperando que o corredor estivesse vazio, pulou para fora daquele buraco e ajudou o velho professor. Estavam diante do elevador, apertou o botão de chamada e em poucos segundos a porta se abriu, uma mulher muito bonita passou por eles sem suspeitar de nada, entraram e se entreolharam desconfiados, não havia indicador do andar desejado mesmo assim pediram o décimo primeiro andar. Estavam tendo sorte até aquele momento embora a jornada ainda estivesse só começando.