segunda-feira, 9 de junho de 2008

Capítulo 17

Capítulo 17

Para Urando, aguardar a hora que encontraria Morga se tornara uma carga difícil de suportar sobre os ombros. Trabalhando com total desinteresse, só voltou as e animar quando chegou ao fim do turno. Pouco antes de entrar na estação de trem, seu comunicador vibrou no bolso. Nervoso, pegou o aparelho com as mãos tremulas e lembrou que era a primeira chamada que recebia na vida, justamente de Morga. Ela foi rápida, disse que o aguardava no box de leitura da estação.
Na verdade, era uma surpresa para ele, sabia que Morga quase nunca andava pela cidade, se animou, a notícia devia ser boa ou ela teria esperado por ele em sua casa. Ao passar pelo salão principal da estação viu que duas mulheres o seguiam com os olhos, Assim que as encarou, elas desviaram a atenção para um outro lado fingindo conversarem entre si. Talvez estivessem apenas achando engraçado notarem tanta pressa dele se esbarrando nas pessoas. Reduziu os passos procurando não despertar suspeitas.
Ao chegar na porta do Box de leitura, olhou em volta, não havia sinal de alguém lhe observando. Respirou aliviado e entrou buscando Morga com os olhos. Ela estava sentada em frente ao balcão lendo um jornal diário enquanto bebia café. Ele se aproximou olhando em volta, colocou seu cartão na máquina e solicitou um chocolate, Morga acariciou sua mão largando o jornal de lado.
- Fale sem me olhar! – Ela pediu. – Podemos ter olheiros a nossa volta. – ela bebeu o que restava do café na sua xícara descartável. – Se algo acontecer, a informação está no programa de conversa do seu amigo virtual. Por precaução não me atrevi numa investigação completa, perderia muito tempo. Qualquer comunicação nossa deve ser feita pelo comunicador, não vá a minha casa hoje, siga direto para o Bar Lamento.
Sem dizer mais nada ela levantou e saiu do Box sem olhar para os lados. Urando estava confuso, algo que ela descobrira não lhe deixava feliz, mostrara preocupação em cada palavra pronunciada e ele deveria fazer o que recomendara. Bebeu seu café e foi diretamente ao bar Lamento, estava com poucos créditos, se gastasse quinze no lamento da sala especial, ficaria pelo menos dois dias sem ter o que comer.
Ao sair da estação, novamente percebeu que outras duas mulheres o seguiam, tentou disfarçar seguindo um outro caminho e elas desapareceram. Ao entrar no Bar, já estava decidido, depois resolveria a questão do estomago, o importante era sondar o que Morga descobrira. Uma moça o acomodou numa das mesas e ligou o autômato, ele ficou olhando em volta sem saber como deveria entrar no programa para consultar a descoberta.
- Alguma dificuldade? - disse a outra moça ao seu lado.
- Gostaria de ver o que eu disse na última vez.
- Puxe o teclado abaixo da mesa, tecle o seu código de acesso e siga os comandos de tela.
A moça sorriu e se afastou para atender outro cliente. Por alguns segundos, ele observou o teclado pequeno que era embutido numa prateleira sobre trilhos. Teclou o seu código de acesso e na tela surgiram cinco opções. Com o indicador, ele escolheu e para sua surpresa, surgiu o nome de Bernardo, tipo sanguíneo e imediatamente um pequeno letreiro piscou, “Você foi sorteado entre os clientes para um premio que mudará sua vida, siga a moça que se aproxima”. O rapaz olhou em volta e não viu qualquer moça se aproximando, aquela mensagem não era para ele, havia sido vista por seu amigo que com toda certeza seguiu as instruções.
Rapidamente voltou para a tela inicial e começou a se lamentar da vida enquanto sua mente funcionava tentando encontrar possíveis hipóteses para aquele aviso que Morga transferira para ele. Depois de quinze minutos, já estava com seu repertório de lamentações esgotados e sua paciência chegara no limite, desligou a máquina e saiu do bar.
Ao chegar em casa, tomou um banho rápido e trocou de roupa. Sentou diante da janela e ficou observando Morga que trocava de roupa para sair para mais um dia de trabalho. Ele acenou indicando que havia feito o que mandara, ela apenas sorriu e não respondeu. Parecia nervosa.
Como ela solicitara não foi até sua casa, caiu pesadamente sobre a cama e sentiu algo lhe doer nas costas, pegou o aparelho LSO que estava ao lado e deu uma palmada na testa. Havia esquecido novamente de devolver. Como não haviam cobrado, achou que seria melhor deixá-lo guardado por mais alguns dias, talvez conseguisse ter alguma diversão mexendo nas suas propriedades já que estava quase sem créditos e não poderia andar gastando.