sexta-feira, 20 de junho de 2008

Capítulo 30

Capítulo 30

Depois que Morga saiu prometendo que tentaria voltar mais tarde, Urando começou a ficar ainda mais preocupado com o que realmente poderia acontecer. Seu amigo Lin Ping, deu uma risada discreta quando o rapaz comentou sobre sua falta de confiança em tudo que havia visto até aquele momento.
- Vamos ver um pouco do que elas nos permitem, vou acessar essa maquina e buscar informações. – Lin Ping ligou um computador que estava sobre uma bancada ao lado do aquário. – O local é muito relaxante. - Bocejou. – Não vejo até agora motivos para permanecer preocupado. Nós entramos furtivamente e ao que parece, elas não se chatearam muito.
Durante quase uma hora, eles navegaram por diversos caminhos e encontraram descrições fabulosas sobre o planeta Azzim. Detiveram-se na experiência propriamente dita. Eram explicações de resultados de testes que não entendiam, mas podiam perceber que era um trabalho criterioso.
Finalmente, Ling Ping começou a fazer buscas pessoais e encontrou a ficha de sua amada com fotos da época em que os dois viviam apavorados, mas felizes num amor tumultuado. Era quase que um filme, todos os momentos públicos dos dois estavam registrados. Urando já estava ficando chateado, pois seu amigo parecia viver na fantasia de uma recordação e esquecia onde estavam. Percebendo a inquietação do rapaz, Lin Ping sugeriu que tentassem descansar e no dia seguinte tomariam as decisões.
- Afinal, não estamos correndo riscos aparentes. – Lin Ping mostrou onde queria deitar. – Para mim, a coisa toda é um grande mistério, mas pretendo encontrar com Raina e esclarecer tudo.
- Devíamos sair daqui, circular por esse prédio e ter certeza...
- Calma Urando! – Lin Ping acenou para que deitasse. – Amanhã...! – Se espreguiçou e deitou.
Não havia mais nada para ser dito. Urando percebeu que o seu professor havia se rendido ao fruto de uma promessa que poderia ser mesmo uma armadilha. A única coisa que aquele homem, cansado e solitário, pensava no momento era na possibilidade de encontrar sua amada Raina e nada mais interessava. Sentia-se novamente isolado para resolver tantas duvidas que pairavam sobre sua cabeça.
Por algum tempo, ficou apenas olhando os peixes nadarem no aquário e escutando o ronco de Lin Ping. Sua cabeça estava ardendo, seus olhos fixos na lentidão dos peixes não ajudavam, precisava fazer alguma coisa para evitar um erro futuro, suas desconfianças poderiam não se justificar, mas elas existiam e não conseguia se livrar de uma coisa assim tão facilmente.
A primeira duvida era a mais angustiante. Urando sentia que não queria ir para Azzim, no entanto, ele perderia a mulher que amava, sabia que isso seria inevitável. Dando um soco no ar, revoltado com sua ignorância sobre o futuro saltou da poltrona como um gato e foi até a porta. Por algum tempo, permaneceu com o ouvido atento, não havia qualquer ruído no lado de fora. Passou a mão na fechadura magnética e para sua surpresa a porta abriu.
Até aquele momento acreditava que estivesse trancada para evitar uma possível fuga ou uma aventura perigosa pelo interior do prédio. Saiu da sala de repouso com passos cuidadosos e foi até onde ficava a caixa de transporte. Cruzou com uma das mulheres que trabalhava no Bar lamento e estranhou ser saudado de maneira natural.
Entrou na caixa e pediu “Morga” como da primeira vez. Em poucos segundos estava no Bar Lamento. Estranhando, saiu da caixa e foi até o salão com cuidado para não ser visto embora soubesse que seus passos deveriam ser acompanhados pelas câmaras do circuito interno. Recostou-se num canto e viu Morga atendendo um cliente na sala especial.
O dia havia sido de muitas surpresas e talvez suas idéias estivessem confusas. O comentário de Lin Ping começava a fazer sentido. Deveria se acalmar e esperar o dia seguinte. Não poderia imaginar novas surpresas acontecendo naquela noite. Mas, estava completamente enganado.
Repentinamente viu surgir do nada, vindo da direção da caixa de transporte, seu amigo Bernardo. Estava bem vestido e alegre de braços dados com uma bela mulher. Era um outro Bernardo que ele via nesse momento, não se parecia o mesmo. Andava com mais confiança e sorria o tempo inteiro falando baixinho ao ouvido de sua companheira.
Acompanhou com os olhos seu amigo que se sentou numa das mesas do bar. Aquela aparição era algo impossível de ser prevista. Por algum tempo ficou indeciso sem saber se abordaria o amigo. Depois de respirar profundamente algumas vezes e coçar a cabeça de maneira nervosa, saiu do seu esconderijo e foi até onde Bernardo estava.
Ficou de pé observando o amigo que não se dava conta de sua presença. Bernardo estava expansivo, alegre e muito descontraído. A mulher que o acompanhava sorriu para Urando e com um gesto de cabeça indicou que Bernardo deveria olhar para o lado. O rapaz ainda sorrindo se voltou e ao ver o velho amigo Urando se espantou e gargalhou levando-se com os braços abertos.
- Meu amigo! – Ele abraçou Urando de maneira entusiasmada.
- Não esperava entra-lo aqui! – Urando se afastou do abraço de maneira delicada.
- Me trouxeram para lhe ver! – Disse Bernardo ainda sorridente. – Conversaríamos amanhã!
- Para me ver? – Urando se mostrou intrigado.
- Me disseram que você pensava que algo de ruim poderia ter me acontecido. – Bernado pediu para o amigo sentar. – Essa é Jurdha, minha amiga...
- Prazer! - Ela estendeu a mão. – Você é famoso lá em Azzim, seu amigo ficou besta quando mostramos algumas imagens da época do orfanato.
- Elas esperam muito de você! – Completou Bernardo.
- Cometeram um grande engano! – Disse Urando com desdém.
- Que nada! – Bernardo olhou em volta e baixou a voz. – Vamos conversar no reservado?
Dando de ombros, Urando levantou-se e seu amigo deu um beijo rápido nos lábios de Jurdha. Ele nem sabia onde era o reservado, esperou que Bernardo indicasse o caminho. Ele também não sabia se poderia confiar nesse amigo que agora se mostrava bem diferente, no entanto, precisava mesmo ter uma conversa reservada.