domingo, 22 de junho de 2008

Capítulo 32

Capítulo 32

Logo que entrou na saleta, Bernardo abriu uma caixa ao lado da mesa e pressionou um botão. Sorrindo indicou com a mão que não poderiam ser vistos nem ouvidos pela segurança. Ele sentou numa das poltronas e Urando ficou de pé olhando em volta ainda muito desconfiado.
- Pode ficar tranqüilo! – Bernardo se espreguiçou. – Essa conversa é só nossa.
- Como posso ter certeza? – Urando sentou na outra poltrona ao lado do amigo.
- Eu garanto! – Bernardo falou encarando fixamente Urando que relaxou.
- Eu confio em você!
- Como foi que se meteu aqui dentro? – Bernardo perguntou se mostrando curioso.
-Uma história para mais tarde. – Urando encarou o amigo. – Me explique o motivo de seu retorno.
- Vou pular algumas partes desnecessárias! – Bernardo maneou a cabeça. – Me disseram que precisavam de mim para ter uma conversa com você e retirar um monte de suspeitas que estavam na sua mente. No inicio achei estranho, mas quando me disseram que perderia o amor de sua vida, resolvi que só conversando com você saberia se realmente deseja isso.
- O que lhe disseram pode até ser verdade, mas acredito que pediram também para me dizer alguma coisa mais, não foi?
- Não pediram nada, apenas que viesse e contasse como eu estava vivendo caso esse fosse seu interesse!
- Como está vivendo?
- Nem queira saber! – Bernardo estalou a língua. - Uma delicia!
- Deixe de ser bobo, me conte tudo! – Urando se interessou de verdade. – Por que não foi ao nosso encontro?
- Não deu! – Bernardo coçou a cabeça. – Me disseram que eu poderia conhecer minha mãe, pensei que ela estava por perto e nunca imaginei que era um outro planeta.
- Está certo! – Urando suspirou com impaciência. - Continue sua história.
- Quando me apresentaram a possibilidade de encontrar minha mãe, fiquei pensando só nisso. Foi muito chato. Ela não demonstrou qualquer afetividade e nem parou para conversar, Apenas sorriu e disse que estava com muito trabalho. Senti-me um idiota e já pensava em voltar para casa como disseram ser possível. Uma mulher me abraçou e disse que eu era muito bonito para ficar triste e pouco depois estávamos na cama. Nunca havia feito isso, ela me ensinou muito bem. No dia seguinte foi uma outra mulher a agora não paro de ser seduzido. Adoro isso!
- Você está sendo utilizado como um reprodutor! – Urando falou com ar de nojo.
- Adoro ser reprodutor! – Bernardo gargalhou.
- Cada um segue por onde acredita ser o melhor caminho! – Urando deu de ombros. – Agora me fale do planeta.
- O que você tem medo?
- Não gosto de como elas agem! – Urando falou lentamente buscando seus receios mais íntimos. – Algo me diz que nem tudo é como dizem.
- Precisa conferir! – Bernardo levantou-se. – Aquele planeta é parecido com o nosso, no entanto é mais frio e quase não tem homem. Calmo e sem a agonia daqui, não tem lugar cheio. Muita mulher bonita e elas gostam de viver umas com as outras.
- Já me disseram isso!
- Lá a vida é muito confortável e se pode escolher melhor o trabalho. Estou me preparando para estudar, acho que vou ser médico ou sei lá o que... não sei ainda. Eles possuem um programa de estudo que é muito bom, bem diferente do nosso. Eu aprendo com facilidade e não vamos precisar fazer novamente aquele tipo de coisa que você inventou na ultima prova.
- Nem me fale disso! – Urando se colocou de pé. – Vou pensar no que me disse sobre conferir, talvez seja o melhor caminho, o risco e não me deixarem voltar.
- Isso eu não sei! – Bernardo deu de ombros. Vamos voltar para o salão, a noite é de Jurdha.
Os dois saíram da saleta abraçados e logo se despediram no salão. Urando se encaminhou para a caixa de transporte, mas foi detido por Morga que parecia aflita. Os dois se entreolharam com carinho e ela estava com os olhos molhados por lagrimas. Ele passou o dedo suavemente no rosto da moça que o abraçou.
- Não quero que você desapareça de minha vida. – Ela choramingou.
- Isso também me angustia! – Ele suspirou.
- Não volto sozinha! – Ela passou o rosto no peito dele para enxugar as lagrimas.
- Tenha calma! – Ele pediu com carinho. – Não estamos morrendo!
- Eu morro sem você! – Ela lamentou.
- Vá trabalhar, depois conversamos!
- Não vou trabalhar mais, vou ficar com você!
- Então vamos subir até seu quarto, no meu, tem um velho que ronca muito!
Os dois sorriram e entraram na caixa de transporte. As idéias ainda estavam confusas para Urando, ele sabia que não poderia se deixar levar apenas para o lado da emoção, teria de ter cuidado, afinal de contas era sua vida inteira que estava em jogo. Os dois entraram no quarto de Morga cheios de de desejos e aos poucos foram se desnudando e fizeram amor como se aquele fosse o ultimo dia de suas vidas.
Urando cansado adormeceu com a cabeça latejando de tanta preocupação. Não gostava de saber da interferência daquelas mulheres na vida da Terra, e muito menos na sua, isso era algo que o indignava. Morga demorou em conciliar o sono, mesmo exausta e satisfeita ainda sentia muito medo de perder aquele rapaz. Ficou um bom tempo escutando a respiração calma dele e adormeceu sem notar.
O restante da noite foi como um momento que não existiu para ambos. Só quando Urando acordou pela manhã e viu a bela Morga adormecida e tranquila, completamente despida, acariciou suavemente sua barriga, teve a certeza que estaria bem em qualquer lugar do universo ao lado dela, mesmo que as duvidas ainda estivessem trancadas na sua cabeça. Teria de arriscar. Por um amor verdadeiro, aquela mulher amada, seria capaz de perder a própria vida.
- Mulheres... – ele murmurou e suspirou, deu um beijo nos lábios de Morga que acordou sorrindo.

FIM

sábado, 21 de junho de 2008

Capítulo 31

Capítulo 31

Pelo comunicador, a operadora de segurança avisou para Morga que Urando estava chegando no salão e que fatalmente encontraria com Bernardo que também estava indo para lá. Aquele encontro não estava previsto para tão cedo, só deveria acontecer pela manhã.
Morga sabia que não poderia interferir, mas também deveria acompanhar tudo de perto. Terminou de atender ao cliente e se posicionou para acompanhar os passos do namorado. Viu quando os dois sem abraçaram e ficou emocionada. Tudo começou a dar errado exatamente por causa do sumiço desse tal de Bernardo. Ela não poderia deixar de pensar que “Até aquele idiota faltar ao compromisso com Urando, a vida dela entrava numa via bem controlada, agora poderia perder o amor de sua vida para sempre”.
Aquele era seu ultimo dia de trabalho no Bar Lamento, não haveria como retroceder seus passos, estaria voltando para Azzim. Seu coração estava apertado, era um sentimento que não poderia explicar, uma sensação de impotência e de impaciência ao mesmo tempo. Teria de se empenhar para convencer Urando e leva-lo também ou sua vida perderia o sentido.
Quando os dois saíram na direção das saletas reservadas, se apressou em segui-los de maneira discreta, acompanharia a conversa pela escuta de segurança. Assim que eles fecharam a porta, ela correu para a sala de controle e ligou a escuta.
- Isso é proibido! – Disse a controladora.
- Esse assunto é justificado, qualquer coisa solicite Vindara! – Morga falou com segurança mantendo o olhar na tela e ouvidos atentos observando Urando e Bernardo.
Os dois ficaram em silencio por algum tempo e para surpresa de Morga, Bernardo sabia exatamente como desligar o sistema de segurança. A imagem desapareceu e o som nem surgiu. Por algum tempo, permaneceu diante de uma tela vazia, não podia acreditar que o idiota fosse tão esperto. Sem ter outra alternativa, saiu da sala de controle de segurança e voltou para o salão.
Sua mente fervia na duvida. Até aquele momento não se ativera ao foto de que estavam forçando uma situação e que Urando poderia se negar em contribuir com sua genética maravilhosa. Ela se apaixonara e isso não era fácil de entender. De qualquer forma, preferia perder o seu amor a ter obrigá-lo a seguir um caminho que não desejasse.
Nada daquilo fora previsto. Era apenas para ela continuar uma vigilância discreta que a colocaram naquele apartamento, mas ele conquistara seu coração de maneira plena. Dando um muxoxo, voltou ao trabalho não adiantava ficar perfurando os sacos cheios de ar que voavam em seu cérebro, não continham qualquer idéia para minorar a situação que se metera.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Capítulo 30

Capítulo 30

Depois que Morga saiu prometendo que tentaria voltar mais tarde, Urando começou a ficar ainda mais preocupado com o que realmente poderia acontecer. Seu amigo Lin Ping, deu uma risada discreta quando o rapaz comentou sobre sua falta de confiança em tudo que havia visto até aquele momento.
- Vamos ver um pouco do que elas nos permitem, vou acessar essa maquina e buscar informações. – Lin Ping ligou um computador que estava sobre uma bancada ao lado do aquário. – O local é muito relaxante. - Bocejou. – Não vejo até agora motivos para permanecer preocupado. Nós entramos furtivamente e ao que parece, elas não se chatearam muito.
Durante quase uma hora, eles navegaram por diversos caminhos e encontraram descrições fabulosas sobre o planeta Azzim. Detiveram-se na experiência propriamente dita. Eram explicações de resultados de testes que não entendiam, mas podiam perceber que era um trabalho criterioso.
Finalmente, Ling Ping começou a fazer buscas pessoais e encontrou a ficha de sua amada com fotos da época em que os dois viviam apavorados, mas felizes num amor tumultuado. Era quase que um filme, todos os momentos públicos dos dois estavam registrados. Urando já estava ficando chateado, pois seu amigo parecia viver na fantasia de uma recordação e esquecia onde estavam. Percebendo a inquietação do rapaz, Lin Ping sugeriu que tentassem descansar e no dia seguinte tomariam as decisões.
- Afinal, não estamos correndo riscos aparentes. – Lin Ping mostrou onde queria deitar. – Para mim, a coisa toda é um grande mistério, mas pretendo encontrar com Raina e esclarecer tudo.
- Devíamos sair daqui, circular por esse prédio e ter certeza...
- Calma Urando! – Lin Ping acenou para que deitasse. – Amanhã...! – Se espreguiçou e deitou.
Não havia mais nada para ser dito. Urando percebeu que o seu professor havia se rendido ao fruto de uma promessa que poderia ser mesmo uma armadilha. A única coisa que aquele homem, cansado e solitário, pensava no momento era na possibilidade de encontrar sua amada Raina e nada mais interessava. Sentia-se novamente isolado para resolver tantas duvidas que pairavam sobre sua cabeça.
Por algum tempo, ficou apenas olhando os peixes nadarem no aquário e escutando o ronco de Lin Ping. Sua cabeça estava ardendo, seus olhos fixos na lentidão dos peixes não ajudavam, precisava fazer alguma coisa para evitar um erro futuro, suas desconfianças poderiam não se justificar, mas elas existiam e não conseguia se livrar de uma coisa assim tão facilmente.
A primeira duvida era a mais angustiante. Urando sentia que não queria ir para Azzim, no entanto, ele perderia a mulher que amava, sabia que isso seria inevitável. Dando um soco no ar, revoltado com sua ignorância sobre o futuro saltou da poltrona como um gato e foi até a porta. Por algum tempo, permaneceu com o ouvido atento, não havia qualquer ruído no lado de fora. Passou a mão na fechadura magnética e para sua surpresa a porta abriu.
Até aquele momento acreditava que estivesse trancada para evitar uma possível fuga ou uma aventura perigosa pelo interior do prédio. Saiu da sala de repouso com passos cuidadosos e foi até onde ficava a caixa de transporte. Cruzou com uma das mulheres que trabalhava no Bar lamento e estranhou ser saudado de maneira natural.
Entrou na caixa e pediu “Morga” como da primeira vez. Em poucos segundos estava no Bar Lamento. Estranhando, saiu da caixa e foi até o salão com cuidado para não ser visto embora soubesse que seus passos deveriam ser acompanhados pelas câmaras do circuito interno. Recostou-se num canto e viu Morga atendendo um cliente na sala especial.
O dia havia sido de muitas surpresas e talvez suas idéias estivessem confusas. O comentário de Lin Ping começava a fazer sentido. Deveria se acalmar e esperar o dia seguinte. Não poderia imaginar novas surpresas acontecendo naquela noite. Mas, estava completamente enganado.
Repentinamente viu surgir do nada, vindo da direção da caixa de transporte, seu amigo Bernardo. Estava bem vestido e alegre de braços dados com uma bela mulher. Era um outro Bernardo que ele via nesse momento, não se parecia o mesmo. Andava com mais confiança e sorria o tempo inteiro falando baixinho ao ouvido de sua companheira.
Acompanhou com os olhos seu amigo que se sentou numa das mesas do bar. Aquela aparição era algo impossível de ser prevista. Por algum tempo ficou indeciso sem saber se abordaria o amigo. Depois de respirar profundamente algumas vezes e coçar a cabeça de maneira nervosa, saiu do seu esconderijo e foi até onde Bernardo estava.
Ficou de pé observando o amigo que não se dava conta de sua presença. Bernardo estava expansivo, alegre e muito descontraído. A mulher que o acompanhava sorriu para Urando e com um gesto de cabeça indicou que Bernardo deveria olhar para o lado. O rapaz ainda sorrindo se voltou e ao ver o velho amigo Urando se espantou e gargalhou levando-se com os braços abertos.
- Meu amigo! – Ele abraçou Urando de maneira entusiasmada.
- Não esperava entra-lo aqui! – Urando se afastou do abraço de maneira delicada.
- Me trouxeram para lhe ver! – Disse Bernardo ainda sorridente. – Conversaríamos amanhã!
- Para me ver? – Urando se mostrou intrigado.
- Me disseram que você pensava que algo de ruim poderia ter me acontecido. – Bernado pediu para o amigo sentar. – Essa é Jurdha, minha amiga...
- Prazer! - Ela estendeu a mão. – Você é famoso lá em Azzim, seu amigo ficou besta quando mostramos algumas imagens da época do orfanato.
- Elas esperam muito de você! – Completou Bernardo.
- Cometeram um grande engano! – Disse Urando com desdém.
- Que nada! – Bernardo olhou em volta e baixou a voz. – Vamos conversar no reservado?
Dando de ombros, Urando levantou-se e seu amigo deu um beijo rápido nos lábios de Jurdha. Ele nem sabia onde era o reservado, esperou que Bernardo indicasse o caminho. Ele também não sabia se poderia confiar nesse amigo que agora se mostrava bem diferente, no entanto, precisava mesmo ter uma conversa reservada.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Capítulo 29

Capítulo 29

Quando entraram na sala de repouso, a moça queria saber o que pretendiam fazer em primeiro lugar. Eles ainda estavam confusos sob o efeito das revelações inesperadas, mesmo assim quiseram conhecer o local de onde partia a comunicação e o transporte entre a Terra e Azzim.
Ela os levou rapidamente até o décimo oitavo andar onde o pé direito era de mais de dez metros. No centro de um salão todo revestido de um material áspero e brilhante, ficava um tubo de luzes que piscavam o tempo inteiro com aproximadamente uns cinco metros de diâmetro por um de altura. Diversos equipamentos de controle regulavam tudo instalados em painéis horizontais em forma de meia lua em ambos os lados.
Três mulheres vestidas com roupas prateadas se aproximaram e ao saber que a visita era uma sugestão de Vindara, se predispuseram em responder qualquer pergunta. De início, Urando e Lin Ping apenas caminharam observando os painéis em seguida começaram a indagar sobre as coordenadas e uma das controladoras explicou.
- Nosso planeta fica num quadrante simétrico ao da terra. – Ela olhou em volta buscando na mente uma maneira simplificada de explicar. – As partículas são desagrupadas num cilindro de luz, numa fração de segundos, voltam ao estado normal já no quadrante desejado. Para não haver um risco de perda de material durante a aceleração dos “etafenos”, um conjunto de agrupamento metabólico do organismo, precisamos definir com rigor o ponto de chegada.
- Se uma parte desses “etafenos” se perde o que ocorre? – Indagou Urando.
- A pessoa transportada pode ser danificada de maneira permanente, ou melhor, dizendo, perder funções cerebrais. – disse a mulher que explicava.
- O que se sente durante o transporte? – Indagou Lin Ping estremecendo.
- Um pouco de náusea e dor de barriga, mas dura apenas dois ou três segundos, isso acontece apenas na etapa de desagrupamento. – Ela sorriu. – Depois... nos outros cinco segundos, acontece o impulso definitivo e a sensação é de flutuar no vazio, muito excitante. Até cinco pessoas podem viajar simultaneamente sem se confundirem fisicamente.
- Elas vestem aquele uniforme de transporte. – Se intrometeu uma das outras controladoras apontando para uma mulher que entrou na sala vestindo um macacão feito de um material de transparência estranha, levemente fosforescente, luminoso como vidro, embora completamente maleável. – Essa mensageira vai partir agora, se quiserem podem assistir.
Eles se acomodaram num canto, a mulher vestida para viajar subiu para o centro do cilindro transportador e diante dos olhos deles se desintegrou num feixe de luz vermelho. Lin Ping olhou surpreso para Urando que parecia congelado apertando a mão de Morga.
Eles se deram por satisfeitos, agradeceram as informações das operadoras e foram visitar o berçário, local onde ficavam algumas crianças que seriam examinadas antes de seguirem para os orfanatos. Morga explicou no caminho que aquele local era completamente automatizado, as mães cuidavam parcialmente das crianças por seis meses, depois voltavam para Azzim com a missão concluída.
- As que nascem fora daqui, o processo se torna diferente, geralmente são deixadas imediatamente após o parto, o risco de morte para a mãe é muito grande, foi o caso de Raina, que para viver, abandonou a filha e o seu grande amor. – Disse Morga abraçando Lin Ping. – O caso de vocês é comentado no planeta inteiro.
- Não sabia da minha fama no seu mundo! – Disse o professor com amargura.
- Uma linda história de amor. – Morga suspirou. – Fizeram até um filme dimensional para ser visto nas universidades que estudam o sentimento, o sucesso superou as expectativas.
- Como Bernardo foi para lá? – Perguntou Urando olhando através do vidro, mais duzentas crianças adormecidas.
- Não sei! – Ela ficou pensativa. – Talvez tenha sido seduzido por uma fêmea reprodutora, talvez o modo de vida oferecido, sei lá, são tantas as possibilidades e cada um tem algo que deseja.
- Deve ter sido a possibilidade de encontrar sua mãe! – Disse Urando pensando em voz alta recordando a última conversa com o amigo.
- O que faria você abandonar a Terra? – Indagou Lin Ping.
- Morga! – ele falou sem pestanejar. – E você, querido professor?
- Raina, Jumi...
- Mulheres! – disse Morga com desdém.
- E você Morga, o que lhe faria ficar na Terra? – Indagou Lin Ping.
- Meu amor! – Ela sorriu entendendo a armadilha que eles lhe haviam preparado.
Naquela noite, a ansiedade estava atormentando a vida dos três. Durante o jantar foram comunicados que a solução do problema estava dependendo da aprovação da atual Ministra Maior e só pela manhã poderiam dar a conclusão daquele enredo. Mesmo nos braços afetuosos de Morga, Urando mantinha sua mente alerta, de alguma forma ainda não decidira se aceitaria um convite para visitar Azzim, sabia que havia o risco de ser uma armadilha.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Capítulo 28

Capítulo 28

A mudança de comportamento de Morga, fazia crescer uma nova desconfiança em Urando e Lin Ping. Ambos se mantiveram inquietos olhando tudo em volta, não conseguiam imaginar o que estaria realmente por acontecer e resolveram manter o silêncio. Não foi necessário aguardarem muito, logo uma parte da parede de vidro abriu e Vindara entrou no salão acompanhada por cinco mulheres.
Elas caminhavam lentamente e para surpresa de todos, reconheceram Jumi que veio ao encontro do pai e lhe abraçou falando baixinho ao seu ouvido. Em seguida sentou calmamente ao lado de Vindara na outra extremidade da mesa.
- O que ela lhe disse? – Indagou Urando desconfiado apertando o braço do professor.
- Disse que não corremos perigo!
Por algum tempo Vindara escutou as cinco mulheres falarem coisas que Urando e Lin Ping não entendiam. Morga tentava acompanhar tudo com muita atenção. Quando elas fizeram uma pausa para observarem algo que Vindara mostrava num pequeno aparelho, ela se voltou para o namorado.
- Estão discutindo sobre a necessidade de relatar toda a história. – Ela suspirou. –Jumi defendeu uma posição que chamava de imediata.
- O que isso significa? – Indagou Urando.
- Não sei, mas se for o que estou pensando, eu também defenderia essa posição. – Explicou Morga dando de ombros.
- Relaxem, vamos aguardar com paciência! – Pediu Lin Ping.
As mulheres voltaram a discutir de maneira acirrada, coisas que nem mesmo Morga era capaz de explicar. Os olhares de Urando e Lin Ping se concentravam em Jumi, de alguma forma acreditavam que ela estava defendendo a melhor posição embora não soubessem o seu conteúdo. O suor escorria pela testa de Urando que não conseguia controlar sua ansiedade e receios sem o colete, Lin Ping com as mãos cruzadas sobre o peito vestira o semblante com uma máscara indecifrável.
Depois de mais de uma hora, a discussão chegou ao seu final, elas sorriram e se cumprimentaram. Vindara, que parecia satisfeita, deu um longo suspiro e levantou-se acenando para Urando, Morga e Lin Ping se aproximarem para ocupar cadeiras mais próximas. Quando todos se acomodaram, ela pigarreou e sorriu.
- Não nos resta uma outra boa alternativa a não ser punir a falta de cuidado de Morga, seremos obrigadas a deixar tudo claro e sem mistérios de uma vez por todas e antecipar um planejamento elaborado por mais de vinte anos.
- Estou pronta para qualquer castigo! – Disse Morga de olhos baixos.
- Você estará de volta ao nosso planeta em muito breve. – Vindara olhou para Jumi que acenou com a cabeça concordando.
- Isso não me parece justo! – Disse Urando irritado.
- Tenha calma meu jovem! Se esperar mais um pouco verá que esse castigo não será uma coisa ruim. – Disse Vindara. – Para acabar com idéias equivocadas, peço que assistam com atenção por vinte minutos um documentário sobre nosso planeta, depois eu contarei detalhes específicos.
Ela fez um sinal para o alto, uma grande tela de definição primorosa surgiu saindo do piso, no fundo do salão. A primeira imagem eram estrelas em seguida um mar calmo de onde no horizonte aparecia nascendo um sol azulado com riscos amarelos para surpresa de Urando que havia sonhado com aquilo.
Depois de mostrar tomadas magníficas de campos completamente forrados de alimentos cultivados por autômatos com uma trilha sonora produzida por instrumentos desconhecidos, eles acompanharam a mudança de cenas rápidas passando por estradas modernas onde trafegavam inúmeros tipos de veículos. Uma grande cidade surgiu, e as ruas eram mostradas com detalhes, em seguida a imagem ficou congelada por alguns segundos diante de uma grande praça, onde centenas de mulheres muito belas andavam de um lado para outro carregando no semblante uma máscara de dúvida e melancolia. Alguns homens idosos passavam vez por outra e não havia crianças.
O sol azulado novamente e em seguida o sol amarelo da terra surgiu repentinamente o substituindo. O filme parecia ter chegado ao fim e ninguém conseguia entender muito bem o motivo daquela exibição. Urando observou no semblante do velho professor uma tácita demonstração de decepção por ver apenas imagens antigas do planeta Azzim. Quando Vindara explicou que agora seria exibida uma segunda parte, ele sorriu com malicia.
Novamente ela fez um sinal com a mão e na tela surgiu novamente a mesma imagem que iniciou o primeiro filme. Só que desta vez, foram mostradas ruas movimentadas e sim um prédio que parecia flutuar no ar onde se lia uma legenda em letras luminosas caracteres semelhantes ao da caixa de remédio que Urando encontrara com Morga. Vindara observou os semblantes confusos dos hospedes e traduziu “Laboratório de Procriação”. Começaram a surgir diversos úteros artificiais e uma mesa de reunião aonde uma dezena de mulheres discutiam. Uma narradora com voz calma começou a explicar em tom didático.
“Acaba de ser aprovado o projeto Procriação Terra, audacioso e com resultados de longo prazo, as primeiras experiências com semens de machos oriundos desse planeta, comprovaram que a reprodução ainda não será possível nesse momento em nossos laboratórios. No futuro teremos resultados positivos, quando forem feitas as miscigenações entre nossas mulheres e os machos da Terra. De acordo com a doutora Satter, precisaremos de um tempo muito grande para concluir os trabalhos, mas ele será fundamental para a sobrevivência da nossa espécie e do nosso planeta”.
A imagem se distorceu de maneira propositada e novamente apareceu no céu o sol azulado com riscos amarelos, em seguida casas começaram a surgir num bairro residencial, estava claro que era uma projeção virtual, crianças corriam pelas ruas, meninos e meninas acompanhados de homens jovens. Novamente a imagem distorceu e a imagem que parecia ser real surgiu, era a mesma praça mostrada no primeiro filme, crianças e homens passavam ao lado de mulheres que sorriam. Novamente a voz de uma outra narradora.
“O que foi projetado para procriar uma nova esperança em nosso mundo está acontecendo, hoje centenas de cidades já convivem com uma nova geração que começa a ser adaptada em nosso planeta. A vida agradece e podemos comemorar os resultados”.
O filme continuou mostrando o planeta Azzim como se ele estivesse se distanciando. A projeção foi concluída e a tela foi desaparecendo, retornando para a sua posição original no piso. Vindara explicou que eram fragmentos de imagens de noticiários exibidos em Azzim.
- Vindara! – Pediu Lin Ping para falar levantando a mão. – Não consegui entender o que pretende mostrando...
- Vou explicar! – Ela olhou para o teto. – As imagens iniciais eram da época em que a decisão de vir para a terra se tornou imprescindível. Nossos homens estavam sendo extintos, não havia como reproduzir mais uma geração de continuidade já que somente mulheres nasciam. A geração de homens produzidos pelo método de laboratório com semens armazenados era insignificante, em cada um milhão de crianças nascidas, apenas um era do sexo masculino e nem sempre saudável. Primeiro encontramos um problema nas relações afetivas, diante das circunstancias, não se podia evitar o desejo de mulheres sedentas de carinho, elas se completavam e esqueciam os homens. Embora nossa sociedade seja teoricamente conduzida por uma política Matriarcal, a vida exige tudo aos pares. Nosso planeta antes tão saudável e belo poderia morrer por falta de habitantes, nossa raça inteira não conseguia ter pela frente uma expectativa de sobrevivência no futuro bem próximo. A terra foi escolhida depois de muitas pesquisas, somos praticamente uma mesma espécie. Viemos em busca de machos, que gerassem filhos para uma sociedade calma e pacifica onde os homens se submetem de maneira dócil sem muitas contestações, por causa disso, evitamos temperamentos mais instáveis e turbulentos, como é o caso de Lin Ping. Não vou entrar em outros detalhes, sei que Raina deve ter contado essa parte para Lin Ping.
- Como vieram para a Terra? – Indagou Urando.
- Em uma nave especial, que demorou mais de um ano para atravessar a imensa distancia entre nossos planetas. – Explicou Jumi.
- Vamos diretamente ao que é mais importante nesse momento. – Disse uma mulher.
- Isso mesmo! – Vindara retomou a narrativa. – A vida na Terra precisava ser observada, por algum tempo, a nave ficou estacionada na órbita desse planeta, as doenças e vírus precisavam ser detectados para gerar a defesa orgânica de nossas mulheres. Nessa época, foi criado o composto mineral e de cultura de bacilos, denominado Xermo, um liquido azul injetável para compensar os efeitos do sol amarelo e prevenir doenças. Só depois disso, foi possível pousar e instalar o tele-transportador. Durante muitos anos, nossas voluntárias foram negativamente sendo influenciadas em suas ações pela cultura conservadora da Terra. Esse fato nos preocupava, as mulheres de Azzim que sempre detiveram o poder político, começaram a discutir sobre as mudanças de comportamento que essa experiência nos levaria. Os homens da Terra não se submetiam ao segundo plano da vida, por índole eram dominadores, mais ousados e imprevisíveis e não abriam espaços para as mulheres. Teríamos de preparar melhor essa sociedade avançando na liberdade feminina e cientificamente. Só assim estaríamos certas de que o processo seria controlado e para isso, as mulheres nativas da Terra deveriam aprender novos conceitos para receber da melhor forma qualquer alteração nos padrões já culturalmente estabelecidos. Isso foi sendo executado ao longo de séculos. No entanto, nosso principal problema se constituía no atraso tecnológico da Terra. Não poderíamos ser bruscas na nossa influência ou não haveria futuro. Para começar a ter uma produção satisfatória na geração de novos seres, passamos por soluções que nos surpreendiam. Primeiro, as coordenadas precisas para chegar nesse planeta em segurança, ficava numa parte do mundo ainda muito insignificante e cheio de problemas, com esforço e muita dificuldade espalhamos algumas de nossa mulheres pelo resto do mundo. As que ficaram próximas de cientistas, escritores, filósofos e políticos teriam um papel impulsionador. Posso garantir que não foi uma tarefa agradável. Algumas de nossas enviadas nessas missões, padeceram e até mesmo foram sacrificadas em nome do avanço cultural.
- Quando se refere as coordenadas exatas está falando dessa cidade que hoje moramos? – Indagou Urando baixinho para Lin Ping.
- Ninguém sabe a mulher que tem ao lado! – Disse o professor com um sorriso malicioso nos lábios.
- As coordenadas precisas estão exatamente no lugar que agora fazemos essa reunião. – Vindara suspirou percebendo a desatenção dos dois homens. – No início da operação, muitas voluntárias, nossas mulheres, morreram ao chegarem por desorientação molecular devido ao tele transporte, mas todo esse risco era necessário. Influenciamos descobertas maravilhosas que os homens comemoram, mas sempre havia uma mulher por perto para passar o conhecimento cientifico necessário muitas vezes já obsoleto em nosso planeta, sempre de maneira discreta. Aos poucos fomos deixando a Terra mais evoluída, tornando possível alguns empreendimentos mais audaciosos. Dentro de algum tempo, estaremos com nossa população estabilizada e voltaremos para casa sem a necessidade de manter toda a nossa organização, embora podemos garantir que será uma coisa lenta e gradual para evitar o caos.
- Se me permitem...- Disse uma das mulheres. – Nunca fizemos nada para prejudicar esse planeta, respeitamos a sociedade que encontramos, apenas lubrificamos algumas engrenagens para tudo evoluir mais rapidamente.
- Vocês raptaram pessoas...
- Calma Urando! – Disse Vindara. – Todos os homens que foram levados para Azzim, fizeram essa escolha por vontade própria, por falar nisso, seu amigo Bernardo foi um deles. Você seria convidado dentro de cinco anos, mas Morga antecipou nosso planejamento se envolvendo afetivamente...
- Não estou gostando dessa conversa. – Urando se exaltou. – Como me convidariam...
- Esse seu temperamento rebelde foi muito bem acompanhado. – Interrompeu Jumi. – A nossa querida professora Heloisa, nos enviou relatórios mensais.
- A diretora do orfanato é uma de vocês? – Indagou Lin Ping desconfiado.
- Preciosa voluntária colaboradora que faz um trabalho magnífico na seleção. – Disse Vindara se voltando para Lin Ping. – Realmente a professora foi muito habilidosa todos esses anos, graças ao seu trabalho, somos capazes de saber exatamente como fazer uma aproximação segura de nossos rapazes. No processo de elaboração e preparação de Urando, ele se mostrou o caso mais complicado que já encontramos. Filho de uma mãe calma e um pai genioso, a mistura explosiva que só na Terra é possível e difícil de prever. Ele seria preparado para uma missão muito maior, agora já não sabemos se ainda será viável.
- Que missão seria essa? – Indagou o professor.
- Não gosto que planejem minha vida! – Urando falou com indignação.
- Você é um líder natural. Seria um desperdício viver aqui na Terra para se tornar medíocre. Tem o perfil adequado para se tornar líder, o primeiro homem Ministro Maior, o que equivale aqui na Terra ao cargo de presidente. – Disse Jumi orgulhosa. – Poderá estudar melhor, se tornar um cientista, um homem com todos os requisitos para governar.
- Quem disse que quero governar? – Indagou Urando com deboche.
- Você sabia que Morga está grávida? – Indagou repentinamente Vindara encarando o rapaz que se assustou e arregalou os olhos. – Ela foi completamente maluca, não pensou um só minuto que você não devia ser envolvido ainda. Ela estava aqui apenas para colaborar no serviço do Bar Lamento, não estava inscrita no programa de reprodução da mesma maneira que Raina, ambas foram inconseqüentes. - Ela se voltou para Lin Ping.- A história se repetiu e temo que outras aconteçam fugindo ao nosso controle.
- O amor, a paixão e a cumplicidade romântica são coisas que aprendemos com vocês, no nosso planeta isso nunca foi coisa real, um sentimento desprezado. Nosso legado histórico de comportamento sempre esteve contido no padrão do desejo – Disse com ar sonhador uma outra mulher suspirando. – Também aprendemos com vocês o valor da música e seus benefícios, até como tocar vários instrumentos.
- Onde está Raina..., viva ou morta? – Indagou Lin Ping de supetão.
- Mamãe está viva e saudosa em Azzim, ela não consegue lhe esquecer, mas tem um trabalho importante por ser feito. – Disse Jumi olhando para o pai com carinho. – Ela voltou contrariada, não queria lhe perder, mas sabia que seria impossível levá-lo.
- Por enquanto, vocês estão liberados, Morga andará por ai com vocês para mostrar nossas instalações. – disse Vindara olhando demoradamente Urando. – Vamos continuar a reunião e se for possível, amanhã não precisará mais voltar a trabalhar naquela porcaria de serviço.
- Somos prisioneiros? – Indagou Urando desconfiado.
- De forma alguma...! – Vindara sorriu. - Apenas convidados, peço que nos ofereçam um credito de confiança por essa noite, poderão participar da nossa decisão e também terão oportunidade de escolher o que devem fazer de suas vidas.
- Estão convidados para conhecer Azzim! – Disse Morga eufórica. – Se aprovarem vai ser magnífico!
Eles levantaram silenciosos e se encaminharam junto com Morga para a caixa de transporte.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Capítulo 27

Capítulo 27

As mulheres conduziram delicadamente Urando e Lin Ping para uma sala confortável com uma mesa de seis lugares e cadeiras em volta, havia aquários imensos forrando as paredes e mais ao fundo diversas poltronas reclináveis. Ainda temerosos, olharam em volta e não encontravam uma maneira de escapulir, deviam aguardar sem ansiedade o momento certo para tentar uma fuga caso se tornasse necessário, mas Lin Ping parecia calmo e comentou que deveriam se manter apenas atentos.
- Você sabe muito mais do que me contou! – Disse Urando segurando o velho professor pelo braço.
- Tenho a sensação de que também vou ficar surpreso com as informações que Vindara pretende nos oferecer.
- Você mentiu para mim. Não foi muito honesto de sua parte me deixar na ignorância...
- Deixe de nervosismo sem lucro! – Lin Ping se mostrou impaciente.
- Morga...! – Gritou o rapaz.
- Fique quieto! – Pediu Lin Ping. – Todo esse negócio começou no fim do século dezoito, um grupo de vinte e cinco voluntárias de pesquisa, saíram do planeta Azzim e vieram para cá. Estavam tentando encontrar uma solução para a sobrevivência em seu planeta, lá, não se conseguia mais gerar, não havia sido registrado o nascimento de homens nos últimos cinqüenta anos. Os cientistas detectaram uma alteração na atmosfera que provocava degeneração genética. Depois de pesquisarem por algum tempo, eles encontraram na Terra uma possibilidade, as raças eram muito semelhantes. No entanto o nosso sol se tornava um problema, daí a necessidade da medicação. As voluntárias descobriram coisas importantes, apenas duas sobreviveram para retornarem, foram de grande utilidade aos cientistas. Produziram um relatório preciso sobre a vida na Terra e como funcionava nossa sociedade.
- Como elas vieram para cá? – Indagou Urando desconfiado.
- Não podiam vir em naves, o tempo seria muito longo devido a distancia entre os dois mundos, o método encontrado, era novo e perigoso, o transporte molecular. Assim elas chegavam do nada em uma área determinada com coordenada específica. Descobriram que a vida no mundo aqui girava em torno do poder econômico e o ouro que para nós era de grande valor, elas possuíam esse minério em abundância e não valorizavam. Um outro grupo de voluntárias foi preparado seguindo as recomendações do relatório das primeiras. Encheram sacolas com peças feitas em ouro para fins específicos e vieram pensando em montar bordeis. Seria perfeito o disfarce, poderiam engravidar e sumir sem despertar suspeitas.
- Não podiam fazer inseminação artificial?
- Isso eu não sei os detalhes, mas parece que havia algo que não dava certo. No entanto, por mais de um século, poucos homens foram gerados, por algum tempo elas pensaram que estavam fracassadas, se tornara comum a morte das mulheres depois de darem a luz e a criança não resistia por mais de uma semana. Depois de muitas hipóteses ao longo de quatro séculos, ficou confirmado que apenas podiam gerar homens, se as voluntárias se relacionassem com parceiros geneticamente corretos de um determinado tipo sanguíneo “O Negativo” e deveriam parir aqui na Terra. Isso não seria muito fácil, as mulheres de Azzim detestavam o nosso planeta e seria difícil esconder da sociedade crianças que depois de algum tempo desapreciam sem deixar vestígio. Os bordeis não satisfaziam na hora da escolha genética. Elas eram obrigadas a se relacionar com homens de todos os tipos correndo riscos de vida. Finalmente no início desse século, eles encontraram a solução para os novos problemas detectados.
- O Bar Lamento? – Indagou Urando.
- Ainda não! – Disse Lin Ping sorrindo. – Compraram pequenas indústrias a beira da falência, injetaram capital e transformaram tudo numa corporação que hoje é conhecida pelo nome de Satter, em homenagem a idealizadora do projeto em Azzim. Ao longo de quase cem anos elas se adequaram ao comércio na Terra, no entanto o processo começou a ficar sofisticado. Algumas mulheres voluntárias ainda morriam de parto mesmo escolhendo os parceiros certos. Os filhos precisavam de cuidados antes de serem levados para Azzim. Não seria capaz de afirmar, mas acredito que o orfanato onde você foi criado seja um dos casulos. Talvez seu amigo Bernardo seja filho de uma dessas mulheres.
- Aonde entra o Bar Lamento? – Perguntou Urando com ansiedade. – Eu sou...
- Tenha calma! – Reclamou Lin Ping. – O motivo da aparente intolerância delas ao seu relacionamento com Morga, me faz crer que você não faz parte dos planos imediatos, deve ser como eu, filho de pais nativos.
- Sou “O negativo...”.
- Eu também. – Interrompeu Lin Ping demonstrando impaciência. – Só falei nisso para você acompanhar melhor a história.
- Que confusão! – O rapaz suspirou.
- O Bar Lamento foi uma idéia de um homem que não sabia o que fazer com dinheiro. Era um rico de nascença, mas na verdade gostava de ficar entre as belas mulheres sem se preocupar. Em pouco tempo, já estava cansado do negócio, nesse momento, veio uma proposta de compra e ele vendeu sem pestanejar. Um segundo grupo de mulheres de Azzim abriu uma empresa nova e assumiu o controle do Bar Lamento.
- Você sendo policial não denunciou?
- Já lhe disse os meus motivos, Raina estava envolvida, eu não poderia criar novos problemas para a mulher que amava e aparentemente nunca houvera um registro de intenções maldosas por parte delas. – ele suspirou se estremecendo e continuou. – Fui apanhado na armadilha mais velha do mundo, o medo!
- Já contou toda essa história para Jumi?
- Nem sei como dizer, mas tenho a impressão de que Jumi sabe mais do que eu! – disse o velho com ar muito desanimado. – Vamos descansar e aguardar para ver o que vai acontecer.
Por algum tempo Urando ficou vendo o velho professor cochilar ou fingir, estava inquieto e tenso. Seu coração lhe dizia que Morga sofria de alguma forma que não seria possível explicar. Um perfume suave exalava na sala mantida numa agradável penumbra, iluminada apenas pelos aquários, era muito relaxante. Acomodou-se numa poltrona diante de um deles e ficou com o olhar perdido observando os peixes nadando de um lado para o outro com movimentos lentos e suaves, relaxou o corpo e a alma, já não estava tão angustiado, logo foi envolvido por um sentimento de paz interior e adormeceu.
Ele sonhou que estava numa cama macia que flutuava no vazio, encolhido nos braços de Morga olhando as estrelas numa noite sem nuvens. Uma brisa suave acariciava seu rosto. Repentinamente no horizonte, começou a surgir um sol de cor levemente azulada com riscos amarelos. Assustado despertou confuso, olhou em volta com a visão ainda embaçada pelo sono. Lin Ping estava sentado à mesa comendo alguma coisa. Esfregou os olhos e levantou-se.
- Pensei que não acordaria mais! – Disse o professor sorrindo. – Venha comer, está uma delicia.
Ainda sentindo a boca grudada pela saliva grossa do sono, sentou-se ao lado do amigo e olhou a comida que estava servida. Era um peixe grelhado com uma salada de legumes e queijo de aparência muito agradável. Seu estomago realmente reclamava por alimento, consultou o seu relógio e viu que havia dormido por mais de cinco horas.
- Será um desses peixes de aquário? – Ele indagou com ar de quem faz uma brincadeira.
- Se for, na próxima vez quero escolher. – Disse Lin Ping sorrindo.
- Reparou como só tem mulher bonita nesse planeta Azzim?
- Nem pense em me trair! – Gritou Morga entrando na sala. – Sou temperamental e muito ciumenta.
Os dois se assustaram ao ver a moça entrar repentinamente. Ela sentou ao lado do rapaz e o olhou com carinho. Eles sorriram e se beijaram esquecendo a presença de Lin Ping que aplaudiu. Depois de algum tempo, Morga deu um suspiro.
- Terminem de comer, eu fui encarregada de levá-los depois até a cobertura onde vai acontecer uma reunião de emergência do conselho Administrador.
- O que pretendem com nossa presença? – Indagou o professor.
- Não sei! – Exclamou a moça nervosa.
Sem pressa eles comeram em silêncio, não sabiam o que pensar sobre aquela reunião. Morga acariciava os cabelos de Urando e o olhava cheia de ternura. Finalmente satisfeitos, levantaram da mesa e acompanharam a moça até a caixa de transporte. Ela olhou em volta abraçou Urando e falou a palavra “Reunião”, a porta fechou. Novamente eles sentiram um solavanco suave e a porta voltou a abrir, estavam diante de um amplo salão todo coberto por vidros azuis divididos em quadrados por molduras negras e uma mesa com mais de vinte lugares.
- Sentem aqui! – Pediu Morga também se acomodando.
O ambiente era perfumado e uma música suave saia de algum lugar que não era possível identificar. As aparências eram enganadoras aos olhos de Urando e Lin Ping.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Capítulo 26

Capítulo 26

Depois de algum tempo envolvida no prazer do abraço amado, como quem acorda de um sonho ruim, Morga se estremeceu, lembrou do perigo que corriam. Olhando em volta demonstrando aflição apertou nervosamente a mão de Urando.
- Não temos muito tempo, logo o alarme vai ser acionado, eu consegui detê-lo por enquanto, solicitando confirmação. – ela puxou o rapaz pela mão. – Bernardo já foi enviado, precisamos sair daqui e depois pensar numa maneira de resgatá-lo.
- Não posso abandonar meu amigo...
- Bernardo está vivo e não corre perigo, talvez nem queira ser resgatado. – Disse Morga gaguejando. – Ele foi por vontade própria embora não soubesse de todos os detalhes.
- Está certo! – Urando deu de ombros e olhou para Lin Ping em busca de auxilio.
- Tem algo errado nisso tudo! – Exclamou o professor coçando a cabeça.
- Vocês não devem se envolver mais do que já fizeram! – Disse Morga como quem implora para ser ouvida.
Eles caminharam na direção da porta que repentinamente abriu, dessa vez o susto foi imenso, Vindara estava na caixa de transporte com uma dezena de mulheres bem armadas. Todos se assustaram, nem as mulheres esperavam encontrar Lin Ping e Urando naquele local. Durante alguns segundos ninguém parecia entender o que estava acontecendo.
- Foi uma surpresa e tanto! – Exclamou Vindara encarando Morga. – Foi você que os orientou até aqui?
- Nós viemos por nossa conta. – Se adiantou Urando.
- Acredito que a senhora terá muito prazer em nos explicar muitas coisas. – Lin Ping deu um passo na direção de Vindara. As mulheres sacaram as armas. – Não precisam temer um velho e um menino. – Ele falou com desdém.
- Eu o conheço muito bem! – Vindara acenou para as suas moças abaixarem as armas. – O seu maior pecado é ser intrometido e ao que parece, arrumou um parceiro muito parecido, se fossem pai e filho eu entenderia.
- O que vamos fazer? – Indagou uma das mulheres.
- Por enquanto, eles serão nossos convidados, os acomodem no setor de relaxamento, dentro de poucas horas já teremos uma solução. – Vindara se voltou para uma moça pequena com ar de criança. – Kogira, faça contato com o conselho e convoque uma reunião imediata, assim que todas chegarem, nossos hospedes serão encaminhados para o salão da cobertura. Quanto a você...- Ela abraçou Morga. – Precisamos ter uma longa conversa, fique aqui e não se preocupe, não faremos nenhum mal aos dois.
Vindara pediu com um gesto que Lin Ping e Urando acompanhassem as mulheres. Eles entraram na caixa de transporte com muita desconfiança, mas de nada adiantaria reagir naquele momento. Assim que a porta da caixa fechou, Vindara puxou Morga pela mão e a fez sentar.
- Minha querida, você se precipitou! – Ela começou a andar de um lado para outro. – Nesse momento, não vou ficar reclamando, nem negar que cometi um erro grave ao acreditar que uma coisa assim não fosse possível. Enquanto me aguarda, continue seu trabalho, vou tomar algumas providencias para solucionar o problema e dentro de mais algum tempo, vou lhe contar uma história que poderá mudar sua conduta. Nada tema, vamos encontrar o caminho certo, sei que poderei contar com a sua boa vontade.
Dando um beijo na moça, Vindara entrou na caixa de transporte. A desconfiança no semblante de Morga estava refletida de maneira intensa. Ela olhou em volta deu um longo suspiro, já acreditava que induzira seu amante a fazer a maior loucura de todos os tempos, mas sabia que reclamar e lamentar, de nada adiantaria. Debruçou-se sobre o braço e chorou.