terça-feira, 10 de junho de 2008

Capítulo 18

Capítulo 18

Morga atravessou a praça central olhando para o Bar Lamento com nítida preocupação. Sabia que as duas mulheres que a seguiram pela manhã eram agentes da segurança, algo devia ter escapado ao seu controle quando fez a transferência de dados. Não adiantava retardar os passos, teria de enfrentar logo qualquer situação que estivesse sendo armada.
A porta de serviço era na lateral do prédio e logo que Morga se aproximou viu as duas mulheres da segurança que vinham ao seu encontro. Em silencio e sem qualquer expressão na face, apenas indicaram que Morga deveria seguir em frente. Elas a encaminharam ao nono andar, doutora Vindara estava aguardando.
Para Morga, aquela seria sua caminhada para um rompimento com tudo que aprendera a amar, sabia que o seu romance com Urando não seria permitido. Vivera nos últimos tempos de maneira escorregadia, sempre ocultando de ambos os lados, coisas que acreditava contrariar a ordem natural, mas não estava arrependida.
De cabeça erguida, ela entrou no elevador panorâmico e ficou vendo a imagem da cidade rapidamente diminuindo como num pesadelo. Talvez fosse a recordação que levaria consigo para uma nova realidade que já não poderia lhe fazer feliz. Ao sair para o corredor forrado de tapete negro e paredes vermelhas, espirrou, de alguma forma, o ambiente lhe causava a sensação de que o ar havia sumido.
Uma das moça abriu a porta do gabinete de Vindara indicando com a mão que Morga entrasse, virou-se voltando para o elevador. Morga estava assustada, olhou em volta aquela decoração do século dezoito, não conseguia entender o motivo daquele tipo de coisas espalhadas, eram bonitas, mas pouco praticas diante do cuidado com a manutenção.
Vindara recebeu Morga de braços abertos para um abraço afetuoso, em seguida fez uma expressão preocupada e mandou a mocinha sentar. Por alguns segundos ela caminhou em silêncio de um lado para o outro com ar pensativo, em seguida, sentou-se junto de Morga e lhe segurou as mãos tentando sorrir.
- Queridinha...! Você colocou em risco um trabalho de séculos!
- Não fiz nada de errado, apenas tentei diminuir a dor do coração de uma pessoa amada que sofria com a falta do amigo! – Ela disse encarando Vindara.
- Ele apenas sabe que o amigo recebeu um premio, mas a coisa poderia ser pior, felizmente, continuamos monitorando todos os terminais. Agora vamos ter de ganhar tempo para desfazer esse problema. – Vindara olhou em volta e levantou sem pressa. – Pela manhã, você vai voltar aqui, por enquanto não faça nada, vá para a sua sala de repouso e não seja imprudente, vou pensar numa solução confiável.
Beijando o rosto da moça, Vindara sorriu e a levou pela mão até a porta relembrando que a esperaria de volta naquele gabinete no horário em que ela terminaria o serviço e voltaria para casa. Durante toda a noite, Morga ficou impaciente e nervosa, não conseguia se concentrar no trabalho de ajustes de programas, seu pensamento não se desviava de Urando, ele se tornara a pessoa mais importante da sua vida e não entendia a razão real que a impedia de ficar ao seu lado.
Pela manhã, voltou ao gabinete de Vindara, dessa vez estava só, sentindo-se perdida num labirinto de dúvidas. Não havia medo, enfrentaria qualquer situação para evitar prejuízo emocional ao seu amado. Dessa vez, Vindara a recebeu sentada na sua poltrona antiga forrada de veludo vermelho, com um gesto frio mandou que sentasse.
- Você vai fazer uma ligação para o rapaz, vai dizer que foi promovida e não pode perder a oportunidade, seja sincera. – Vindara suspirou. – Não tente se mostrar nervosa ou triste, dê o romance por terminado.
Sem qualquer resistência, Morga pegou o seu Comunicador e ligou para Urando. Ela sabia que naquela hora o rapaz estaria se arrumando para iniciar mais um turno de trabalho. Ao ver o rosto do rapaz na tela do seu aparelho, sorriu e respirou profundamente.
- Bom dia, dorminhoco! – ela falou rapidamente, não queria permitir que ele falasse algo que a comprometesse mais ainda. – Fique em silêncio e ouça com atenção.
- Está certo! – Ele concordou.
- Estou sendo promovida, vou galgar novos andares profissionais e para isso terei de partir para um outro lugar, não vejo como manter nossa relação.
- Não estou entendo a...
- Não se trata de entender. – Ela interrompeu. – Como lhe havia dito no décimo primeiro dia de nossa aventura, eu não seria uma mulher para ficar ao seu lado por muito tempo. Esqueça de mim! – Ela espirrou e o aparelho tremeu em suas mãos. – Lembre-se do que conversamos no décimo primeiro dia, eu preciso desligar, esqueça de mim.
Urando ficou alguns segundo imóvel com o aparelho nas mãos. Ele havia visto de maneira rápida quando Morga espirrou a imagem de algumas peças de decoração do século dezoito que encontrara na sala de Vindara. Aquela imagem estava confusa, precisava de ajuda e não podia perder tempo. Imediatamente ligou para Jumi e lhe contou o que ocorrera.
- Parece que estão afastando a moça de você! – Disse Jumi preocupada. – Não sei como lhe ajudar, mas acho que devia procurar papai. Vou ficar atenta, no momento estou sem condições de sair daqui, qualquer coisa me ligue sempre no início da tarde, estarei mais disponível. Sabe o numero do aparelho dele?
- Sei...- Urando choramingou. – Vou tentar!
O rapaz sabia que a sua amiga não poderia largar seus afazeres e correr para tentar ajudar, no entanto não havia pensado em buscar auxilio de Lin Ping, ele se esquivara quando começaram a conversar sobre o assunto do Bar Lamento. Depois de refletir um pouco, entrou em contato com o velho professor, contou a historia toda notando as feições dele se contorcerem numa agonia que não entendia.
- Estarei ai depois do meio dia e lhe encontro na estação Central, no box de leitura. – Disse Lin Ping desligando.
Urando consultou o relógio, estava ficando tarde e precisava se apressar para chegar ao trabalho. Seu coração estava descompassado, saiu para a rua buscando o ar que lhe parecia insuficiente dentro de casa. Algo errado estava acontecendo, ele sentia-se culpado por ter envolvido Morga naquela historia e agora continuava envolvendo outras pessoas sem conhecer os riscos.