domingo, 8 de junho de 2008

Capítulo 16

Capítulo 16

Pouco antes do seu horário de folga para o repouso, Morga estava impaciente consultando discretamente o relógio a cada minuto. Não havia dito toda a verdade para Urando e isso a incomodava. Mais do que nunca se tornava imprescindível esclarecer a sua vida para ele, estava apaixonada e não poderia permitir que a origem de seu passado fosse um entrave para a felicidade, estava disposta a fazer qualquer coisa para ter o seu amor passeando no paraíso.
Por algum tempo sua mente passeou pelas possibilidades inversas. Talvez, o rapaz não fosse assim tão apaixonado e se negasse ao amor oferecido diante de toda a verdade. Esse seria um grande risco, mas teria de enfrentar o problema com dignidade. Estava apavorada com a sua própria vida e isso poderia ser ainda pior na cabeça de alguém que não espera escutar da namorada uma história tão incrível e quase inacreditável. Dando um suspiro longo, consultou o relógio mais uma vez.
Finalmente ela podia se liberar, concluiu o programa de um cliente e foi diretamente para a sala de repouso que ficava no quinto andar do prédio. Cada programadora possuía um cômodo exclusivo, era apenas um quarto amplo com uma cama, uma mesa com duas cadeiras e uma bancada onde ficava o terminal do computador. Na parede lateral a porta de entrada, havia uma outra que dava acesso ao banheiro.
Algumas das moças, quando precisavam de um novo treinamento ou algo especial, ficavam hospedadas por meses naquelas salas de descanso e repouso. No andar de cima, ficavam os escolhidos que seriam encaminhados ao programa de reprodução experimental, no entanto ela não sabia como funcionava, nunca havia sido autorizada a se transferir para essa unidade com base científica.
Para ela, a experiência que as cientistas do grupo executavam, era um completo mistério, só havia pescado uma pequena parte da informação, era algo ligado ao processo genético com base no fator sanguíneo relativo a sobrevivência da espécie. Nada disso poderia vazar para longe do controle de doutora Vindara que era mentora intelectual de todo o sistema.
Dando de ombros, respirou profundamente tentando afastar da mente aquelas coisas todas que no momento não eram importantes e sentou diante do terminal do computador. Precisava de toda a sua agilidade para evitar ser catalogada na memória principal, caso isso ocorresse, saberiam que ela andou fazendo algo proibido, entrar sem permissão no programa de acesso ao circuito de uma outra programadora. Isso lhe causaria problemas infindáveis.
Repentinamente sorriu satisfeita com a idéia que brotara na sua mente, não perderia mais do que dois minutos afastando a hipótese de ser detectada. Rapidamente deu alguns comandos e ficou contemplando a tela do monitor aonde a caixa de transferência de busca corria de um lado para outro de maneira muito veloz. O nome de Bernardo apareceu, ela novamente deu outros comandos e depois de alguns segundo estalou os dedos e desligou o seu terminal. O que podia ser feito estava concluído.