sábado, 14 de junho de 2008

Capítulo 23

Capítulo 23

Urando caiu na cama assim que entrou em casa, sentia o corpo todo dolorido e a cabeça fervendo. Entendera o motivo da preocupação do professor querer aqueles coletes. Mesmo sabendo que não enfrentaria um perigo muito grande, durante a ação no aeroporto percebeu que ficara muito excitado, realmente seu coração batia em ritmo acelerado e o suor lhe escorria pelo corpo em abundância.
Adormeceu sem nem perceber e só acordou quando o despertador lhe chamou para o trabalho. O tempo estava úmido e uma chuva fina caia como véu de noiva. sentiu preguiça, detestava o serviço já que continuava angustiado e tenso todas as vezes que entrava nos túneis. Depois de se espreguiçar demoradamente deu um pulo se pondo de pé e instintivamente olhou para a janela buscando a imagem de Morga.
Para sua surpresa, viu que havia uma outra mulher se movimentando com intimidade na casa de sua amada, estava completamente despida, preparando-se para se aplicar o mesmo remédio desconhecido. Esquecera completamente da sua suspeita ao ver as mulheres do Bar Lamento entrando no prédio, agora estava confirmado, Morga não voltaria.
Sentando-se na beira da cama, acariciou os coletes jogados no chão, deu um longo suspiro sentindo o corpo estremecer. Irritado diante do sentimento de impotência, trocou de roupa, comeu uma maçã e saiu para trabalhar. Não adiantava ficar lamentando para si mesmo a situação, estava na hora de começar a transformar suas preocupações em ações e libertar seu amigo e a namorada em poder das estranhas mulheres do Bar Lamento.
Ele não sabia o que o levava a ter tanta certeza que encontraria realmente Bernardo naquele lugar, mas sua intuição nunca falhava. Algo lhe dizia que ainda teria surpresas imensas pelo caminho e que não seria nada fácil o que Lin Ping e ele teriam para executar. Não devia se enganar, aquelas mulheres se mostravam mais perigosas do que aparentavam.
Enquanto trabalhava, Urando se perguntava o que realmente havia por trás da história contada pelo velho professor sobre a mãe de Jumi. Por outro lado, lhe veio a ideia preocupante de Morga ser parte de um esquema que não gostaria de descobrir e que talvez Bernardo estivesse de acordo com o que lhe acontecia naquele momento. Talvez não servisse de nada todo aquele trabalho para resgatá-los.
Ao voltar para casa, sentia-se abatido pelo desanimo. Tudo estava acontecendo de maneira muito rápida.0 Fazer uma avaliação ficava difícil já que sua emoção lhe acompanhava impedindo uma reflexão apurada e fria. Dando de ombros, se acomodou melhor na poltrona do trem, afinal em muito breve todas as suas indagações deveriam ser respondidas.
Chegando em casa, o rapaz tomou um banho, comeu alguma coisa e em seguida ligou para Lin Ping. Por algum motivo muito especial o professor lhe oferecia segurança. A presença dele o estimulava e proporcionava uma aflição menor, um conforto de espírito. Sentia-se protegido, com muita vontade de ser consolado e escutar palavras de cumplicidade e carinho. Só assim, se dava conta que sua vida inteira sempre estivera contida num imenso vazio de afeto. Ele nem conhecia o verdadeiro sentido dessa palavra.
Logo que o professor recebeu o chamado, foi para o apartamento de Urando. Os dois ficaram por muito tempo fazendo os ajustes nos coletes que eram perfeitos para a idéia que faziam das necessidades. Depois do trabalho concluído, saíram para jantar e no caminho elaboraram um plano mais adequado nos detalhes. Ping chegaria na Estação central no horário final do turno vespertino de Urando, ficaria aguardando seu comunicador tocar duas vezes em seguida pularia para os trilhos e correria até a valeta de manutenção.
Caberia a ele levar os coletes e todo o material necessário para penetrarem no túnel desativado e alcançarem o Bar Lamento pelo subsolo. Tudo teria de ser executado de maneira precisa e rápida sem despertar a atenção da segurança ferroviária. Como poderiam encontrar os ratos gigantes naqueles túneis, as pistolas magnéticas seriam fundamentais, mas Urando possuía apenas uma, o professor o acalmou dizendo que a sua velha arma de ondas eletromagnéticas do tempo de polícia ainda funcionava, bastaria carregar a bateria nas próximas vinte e quatro horas.
Nada mais poderia ser feito para melhorar aquele plano, teriam apenas de aguardar o momento certo e executá-lo da melhor forma possível. Ambos estavam ansiosos escondendo com dissimulações seus tremores de medo e indagações mais íntimas.