quarta-feira, 28 de maio de 2008

Capítulo 07

Capítulo 07

Durante as outras duas semanas antes da folga, Genaro se mostrou indiferente ao rapaz, não falava com ele diretamente e o escalava para os serviços mais pesados. Por sua vez, Urando sentia falta da amizade, mas não sabia como resolver aquela situação já que não pretendia se expor aos perigos de uma aproximação que causasse constrangimento para ambos.
No ultimo dia de trabalho naquela semana antes de folga, sentia-se cansado e ao chegar em casa para repousar, sua cabeça estava tomada por idéias confusas. A solidão era um sintoma que rondava os habitantes da cidade, talvez fosse esse o motivo do bar “Lamento” ter progredido.
Costumava escutar em algumas conversas no trem quando voltava para casa, pessoas de diversas atividades e status social comentarem que buscavam o consolo dos autômatos para desabafar suas frustrações. Talvez fosse uma alternativa a ser refletida, no momento, não deveria desperdiçar seus créditos, mas assim que fosse possível, conheceria aquele lugar.
Sentia-se muito mal trabalhando naquela porcaria de emprego, sempre nos mesmos locais, correndo de um lado para o outro penetrando nos túneis desagradáveis com a sensação de não ter alguém ao lado para dividir seus medos. Não havia espaço para relacionamentos afetivos naquele mundo de trabalho e competição diária pela sobrevivência, não negava a si mesmo a inquietação dessa nova vida sem um só amigo para desabafar suas frustrações.
Agora entendia algumas pessoas que se desesperavam ao ponto extremo de tomarem a decisão de por um fim na jornada da vida. O suicídio era uma fuga, ultimo alento de controle de si mesmo num mundo que não permitia equívocos ou escolhas. A morte não significava uma derrota, talvez fosse até um premio, quando não se possuía nada para comemorar. Sorrindo das idéias absurdas que lhe tomavam a mente, relembrou que uma certa vez fora repreendido por Lin Ping quando disse que a morte era tão boa que só acontecia uma única vez na vida de cada individuo.
As palavras do velho professor lhe vieram na memória de maneira muito clara, “Sempre devemos comemorar a vida, ela é sagrada e não podemos acreditar que as coisas acontecem por acaso, nós as provocamos e devemos saber saltar todos os obstáculos”. Na sua simplicidade filosófica diária, Lin Ping sabia falar coisas que deveria entender por experiência própria, para Urando a vida estava apenas começando, ainda poderia ser um presente comemorado, bastava se acalmar, aquietar o espírito rebelde e aguardar o momento certo para retomar o controle de sua vida sem cair na mediocridade.